Podemos guardar qualquer dia ou dia nenhum ?

Edgar Lopes – Sábado
Baseados em 3 textos paulinos, alguns argumentam que podemos guardar qualquer dia ou nenhum, sem que ninguém nos julgue por isto. Será mesmo? Vamos ler os três textos:

Rom. 14:5 Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente.
Gál. 4:10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.
11 Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco.
Col. 2:16 Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados,
17 Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.
Estes dias de que fala Paulo são o sábado semanal, ordenado no quarto mandamento? NÃO!!!

Primeiro, precisamos distinguir entre o sábado da Lei Moral (os Dez Mandamentos, que definem o pecado) e os sábados da Lei Cerimonial (os sacríficios e festas judaicos, que remediam o pecado). A Lei Moral continha um Sábado semanal (Êxo. 20:8-11), o dia semanal de descanso e adoração que conhecemos. Ele continuará mesmo na eternidade (Isa. 66:22,23) e permanece como mandamento guardado pelos cristãos (Lucas 23:54-56).

Já a Lei Cerimonial continha 7 Sábados anuais (você os encontra em Lev. 23:24, 27-28, 32, 37-39). Estes eram os dias de festas do calendário anual judaico, recaindo em diferentes dias da semana:

15 de Nisã (Páscoa),
21 de Nisã (pães asmos),
6 de Sivã (Pentecostes),
1.º de Tishri (memória da jubilação, Festa das Trombetas),
10 de Tishri (Dia da Expiação),
15 de Tishri (Festa dos Tabernáculos) e
22 de Tishri (oitava dos Tabernáculos).

Para você entender melhor, pense nos dias de festa do calendário anual católico, como a Quarta de Cinzas, o Domingo de Páscoa ou o Corpus Christi. Estas festas católicas variam de um ano para outro, embora sejam calculadas segundo um tempo pré-fixado por métodos astronômicos. A Páscoa católica sempre cai num domingo, por exemplo, mas pode ser em março num ano e em abril em outro. Mas não importa a data em que a festa caia: segundo a Igreja de Roma, todo bom católico deve guardá-las como dias santos, com a mesma solenidade e reverência com que guarda o domingo. Tanto é que, no catecismo católico, o mandamento bíblico do sábado foi trocado por "guardar domingos e festas".

Festas judaicas e festas católicas são parecidas em muitos aspectos. O primeiro é que as festas judaicas caíam em dias fixos do ano mas não em dias fixos da semana. Por exemplo, a Páscoa judaica caía sempre no dia 14 do mês lunar judaico de Nisã, mas em um ano esta data poderia ser quarta-feira e no seguinte, domingo. O segundo é que as festas judaicas deveriam ser guardadas pelos judeus como dias santos, em que nenhum israeleita deveria praticar qualquer tipo de trabalho. O terceiro é que o judeu deveria guardar estas festas, independente do dia da semana em que caíssem, com a mesma solenidade e reverência com que ele guardava o sábado semanal. A diferença principal para nós, contudo, é a seguinte: as festas judaicas eram tão parecidas com o sábado que eram chamadas... SÁBADOS!!! Poderia ser quarta-feira ou domingo, o judeu chamava estes dias especiais de... sábado! Se duvida, leia os versos acima indicados em Levítico 23 e comprove você mesmo.

São estes sábados anuais da Lei Cerimonial de que fala a Bíblia quando diz que os sábados seriam abolidos (Osé.2:11). Estes sábados anuais apontavam para o futuro, para a Salvação que Cristo traria para a humanidade; como o véu que se rasgou de alto abaixo e os cordeiros sacrificados que perderam o valor quando Jesus morreu, estes sábados perderam completamente o valor na cruz. São estes os sábados e dias de que fala Paulo.

Os sábados anuais prefiguravam a cruz e terminaram na cruz, mas o sábado do Senhor foi estabelecido antes da entrada do pecado e, portanto, esses sábados não podiam prefigurar nada sobre livramento do pecado. Esta é a razão pela qual Colossenses faz menções específicas dos sábados que eram “sombra das coisas que haviam de vir”. O sábado semanal aponta para o passado, as "coisas que aconteceram" na Semana da Criação, realizada por Deus em seis dias.

Os crentes em Rom.14:5 podiam achar ou não alguns dias mais santos do que outros, porque a santidade destes dias santos era indiferente para o cristão. Os judaizantes de Gál. 4:10-11 erravam por achar que a guarda das festas judaicas pudesse salvá-los. Os irmãos de Col. 2:16-17 não deveriam julgar os outros por estes sábados, porque eles eram sombras que apontavam para o futuro; quando veio Cristo –  o corpo –, as sombras perderam a razão de existir.

Voltemos ao exemplo das festas católicas. Motivado por sua experiência religiosa anterior, pode acontecer de um católico fervoroso que se converte ao protestantismo querer dedicar o dia de Pentecostes para orar mais ou evitar trabalhos desnecessários na Sexta-Feira da Paixão. Esses dias santos para o catolicismo não têm santidade alguma para o protestantismo, e assim não precisam ser guardados. Mas qual o problema se o irmão que veio do catolicismo quiser separá-los para o estudo da Bíblia ou para uma vígila de oração? Podemos dizer para este ex-católico o mesmo que Paulo disse para os ex-judeus do primeiro século: não há nenhum problema. Mas ele deve respeitar os demais irmãos que não veem nada de diferente ou especial neste dia (Rom. 14:5). Ele também não deve pensar que esta prática pessoal tenha qualquer mérito para sua salvação (Gál. 4:10-11). Muito menos deve tentar impor este hábito sobre os outros crentes, julgando o o caráter ou a salvação dos que não pensam como ele (Col.2:16-17).

Estes textos, portanto, não se referem ao sábado semanal e não fundamentam a idéia de podemos guardar qualquer dia ou dia nenhum. Se alguém acha que esta é uma conversa fiada adventista, pode conferir trechos de vários comentários não adventistas que interpretam os 3 textos acima da mesma maneira.


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