Uma parte moral e outra cerimonial no Sábado?

O Sábado na vida de uma estudante de Engenharia Civil

Em réplica a tese de que não basta um dia em sete para a guarda do sábado, alguém me escreveu numa lista de discussão na internet: "Sábado, segundo Lev. 23, era uma cerimônia como Lua Nova, Pentecostes e outras, embora tenha um preceito moral embutido, que independe do dia da semana."

Aos que defendem a natureza dupla do mandamento do sábado, é forçoso perguntar: De onde se conclui que o quarto mandamento do decálogo tem uma parte moral e outra cerimonial?

A Bíblia jamais poderia sugerir coisa tão absurda, pois seria ignorar elementarmente a razão de ser de um mandamento cerimonial. É primário que todos os preceitos cerimoniais foram introduzidas após a Queda do homem, como sombras que apontavam para a Redenção, para a obra de Cristo em favor da salvação do homem e a restauração deste à sua glória original. Ora, se o sábado tivesse algum traço cerimonial, certamente teria ele sido estabelecido após a entrada do pecado no mundo e forçosamente seria um tipo de Cristo em algum sentido. Teria que ver com a expiação. Isto liquida a pretensão de atribuir-se ao sábado qualquer caráter cerimonial.

Por que, então ele é moral? Simplesmente porque, o sábado foi dado (Mar. 2:27) no ambiente da original perfeição do Éden, onde o homem, sem a mancha do pecado, comungava livremente com o seu Pai celestial. Somente após a queda, precisou ser instituído o cerimonialismo, para tipificar o Redentor do homem caído, o Remédio para o pecado. Mas quando se instituiu o sábado, não havia necessidade de Redentor nem de coisa alguma que O tipificasse. À vista desta verdade, o sábado do Decálogo não tem nenhum sentido cerimonial. É INTEGRALMENTE MORAL, como podemos ver nos seguintes fatos:

1) Comentaristas bíblicos não adventistas concordam que o sábado é um mandamento moral.

O estudioso metodista Adam Clarke, numa profunda análise dos preceitos do decálogo, assim remata:

"É digno de nota que nenhum destes mandamentos, OU PARTE DELES, pode... ser considerado cerimonial. Todos são morais e, conseqüentemente, de eterna obrigação." — Clark's Commentary, Vol. 1, (sobre Êxo. 20).

O erudito comentador batista Broadus também defende a moralidade do sábado nestas palavras:

"O sábado parece ter sida ordenado aos nossos pais logo que foram criados; e juntamente com a instituição do casamento constituem as únicas relíquias que nos restam da vida sem pecado no Paraíso. O mandamento de santificá-lo foi incluído entre os Dez Mandamentos, a LEI MORAL, que é de obrigação perpétua." — John A. Broadus, Comentário ao Evangelho de S. Mateus, Vol. 1, 344.

E também Strong – o príncipe dos teólogos batistas – é incisivo:

"O sábado é de obrigação perpétua.... A sua instituição antedata a Decálogo e forma uma parte DA LEI MORAL." — A. H. Strong, Systematic Theology, pág. 408.

2) O sábado não tem o menor milímetro de cerimonial; é moral em sua integridade.

Sábados cerimoniais, como abordei num post anterior, eram os dias anuais de festa judaica e que de modo algum podiam ser confundidos com o sábado do sétimo dia. Não há nele o caráter ambidestro moral-cerimonial pretendido. Tampouco é um feriado judaico: Levítico 23:38 afirma categoricamente que os sábados anuais, ou festas fixas, foram dados em acréscimo ao sábado do sétimo dia: “além dos sábados do Senhor”.

O sábado, como foi dito e repetido, antecede o pecado e foi dado antes da Queda, portanto antes que o homem necessitasse de Redenção. Fosse ele cerimonial, no todo ou em parte, não seria esculpido nas tábuas de pedra, mas sim escrito no livro de Moisés que continha todo o ritual cerimonial judaico. Por consequência, nada tem de cerimonial pois não pertence ao sistema expiatório e não aponta para a expiação em Cristo.

Se não tivesse havido a tragédia da Queda, o que aconteceria com o sábado? Continuaria a ser observado pelo homem no Éden, com o privilégio da companhia de Deus. Mas não há dúvida que continuaria a ser observado. E tanto isto é verdade que, na Restauração de todas as coisas quando enfim a maldição for removida desta Terra e tudo voltar à pureza edênica e o homem à glória original, o sábado continuará a ser observado e para sempre, segundo lemos em Isa. 66:22. Sobre isto, o teólogo adventista Arnaldo Christianini escreveu certa vez: "o sábado é a única instituição que associa os três fundamentos basilares da fé cristã: Criação, Queda e Redenção".

Cristo mesmo diferenciou o sábado, de qualquer preceito cerimonial, quando declarou: "Se o homem recebe a circuncisão (rito cerimonial) no sábado (mandamento moral) para que a lei de Moisés (cerimonial) não seja quebrantada, indignais-vos contra Mim porque no sábado (mandamento moral) curei de todo um homem?" João 7:23. (Parêntesis e grifos nossos, para esclarecimento). Não tivesse o sábado o seu caráter exclusivamente moral, inconfundível, Cristo não teria o cuidado de dissociá-lo de práticas cerimoniais como a circuncisão, no caso em foco.

Paulo também distingue preceito cerimonial, da lei moral quando diz: "A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus." 1 Cor. 7:19. Embora aludindo aos judeus e não judeus, ou aos que queriam impor o rito aos novos convertidos na igreja nascente, Paulo distingue os mandamentos de Deus, de qualquer prática cerimonial judaica.

3) O próprio fato de Deus ter posto o mandamento do sábado no coração do decálogo – conhecido como o sumário de toda a lei moral –mostra inquestionavelmente o caráter moral do preceito.

O quarto mandamento remete o leitor à semana da Criação (Êxo. 20:11), na qual o descanso foi no sétimo dia. Deus não repousou simplesmente num dia em sete, mas no sétimo dia. Pois bem, naquela primeira semana do mundo, o sábado era apenas um dia em sete ou era o específico "sétimo dia?" Era o sétimo dia, a partir do primeiro, na ordem natural dos eventos da criação. Por que razão ele se tornaria menos específico e deixaria de ser o sétimo, na exata ordem, na sucessão das semanas, dos anos e dos séculos? Por que não o seria hoje?

Pode-se acrescentar que o dever de o homem amar e obedecer a Deus repousa principalmente no fato de que o Senhor criou todas as coisas, e o sábado é um memorial deste fato, trazendo sempre a consciência deste fato. Outro dia não poderia fazê-lo, pois não teria este característico, este sentido e esta finalidade. O sábado – como todos os preceitos morais – aplica-se igualmente a todas as nações, terras e tempos, pois todas as leis morais são de aplicação universal, não se restringem a um povo e não sofrem mudança por nenhuma circunstância.

Todos crêem que nosso Salvador passou no sepulcro o sétimo dia da semana. E como o evangelista Lucas descreve esse dia mais de trinta anos depois da ressurreição do Mestre? Chamando-o de "o sábado conforme o mandamento" Luc. 23:56. Esta afirmação inspirada é suficiente por si para liquidar a questão sobre o que quer dizer o mandamento, aliás o quarto, quando estabelece: "o sétimo dia é o sábado". Quer dizer que é o sétimo mesmo, específico, ordinal, sem dubiedades. Nada de "um dia em sete."

É uma leviandade afirmar que o sábado tenha uma parte cerimonial e que esta era o "sétimo dia". E leviandade maior é supor que a parte moral consistia simplesmente na guarda de um dia em sete. Como pode a guarda do dia de descanso "independer do dia da semana", se a Palavra de Deus não coloca sob o critério do homem a escolha do dia em sete para guardar? Onde lemos na Bíblia que o Deus soberano subordinou ao critério de Suas criaturas pecadoras, indignas e mortais seguir Sua soberana vontade conforme melhor atendesse às suas conveniências? Se o que vale é "um dia em sete", porque os oponentes do sábado bíblico se agarram tanto à observância do primeiro dia da semana e combatem a observância do sétimo dia?

Para encerrar, se dissermos a um amigo que moramos na sétima casa do quarteirão, que diríamos se ele nos procurasse na primeira casa? Se uma pessoa der sete passos, porventura começará do segundo? Esta esdrúxula interpretação de "um dia em sete," a par com a não menos esdrúxula denominação de "sábado cristão" aplicada ao domingo, surgiu em 1595 A. D. quando a questão do dia de guarda agitava a Inglaterra, provocando acesos debates entre os teólogos protestantes. E, segundo lemos em The Creeds of Christendom, de Philip Schaff, cap. 21, Vol. 1, pág. 762, foi NICHOLAS BOWND que, naquele ano, pela primeira vez, estabeleceu a tese de "um dia em sete." Ora, isto é importante. Quer dizer que ninguém ao tempo de Cristo ou por quase 1.000 anos depois pensou em fazer tão esquisita interpretação do mandamento divino!!!


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